As nuances de um amor real

Alexia Cristhine
4 min readJan 3, 2021

Meus amores e desejos foram moldados na base daquilo que os meus olhos poderiam alcançar, mas que meu corpo e meu coração não. Tenho uma coleção enorme de estórias que só existiram na minha cabeça, de paixões inventadas, de pessoas irreais.

Mergulhei em um mundo criado por mim e passei anos me relacionando com aquilo que idealizava a respeito dos outros, eu vivia apenas em função das minhas expectativas, e assim acabei relegada a nunca vivenciar algo verdadeiro.

Em meio as minhas idealizações eu te criei, acreditei que estava louca por ti, quando na verdade tudo que eu queria era me sentir assim por alguém, por qualquer pessoa, eu me enganei. Sofri por anos por não te ter, não sabia que o que buscava era apenas algo para me preencher.

Te coloquei em um pedestal e te mantive ali, ninguém nunca chegou aos teus pés, e nem poderia chegar, pois criei a imagem e semelhança da pessoa perfeita em você. Passei anos deixando de amar outras pessoas, pois acreditava que só poderia ser feliz, se encontrasse alguém capaz de despertar o mesmo que você despertou em mim.

Te reencontrei, e estava tão feliz, não cabia em mim, havia encontrado o que sempre quis, mas acabei me deparando com o inesperado, o teu eu, real, quem você realmente era, não encontrei a pessoa perfeita que em minha mente criei, e agora meu castelo de cartas, com um leve sopro do vento, se desfez.

Não suportei o peso dos teus desfeitos, não suportei o peso de nossas diferenças, como assim você não era aquela pessoa com quem eu havia tanto sonhado? Me deparar com a tua verdadeira face, fez com que eu aos poucos abandonasse a versão de mim que havia tanto te idealizado, eu não era mais aquela menina que vivia imersa em um faz de conta, descobri que existia mais,que queria mais.

Então fui viver, graças a esse reencontro e encontro com você, eu pude me permitir viver amores reais, tentei aceitar as pessoas do jeito que elas eram e aos poucos percebi que não cabia a mim tentar mudá-las, aprendi sobre fins e começos, aprendi sobre limites e respeito, aprendi a deixar ir e a deixar ficar, aprendi finalmente que meu tempo é singular.

E é singular assim como o tempo do amor, como que por brincadeira do destino a gente de novo se esbarrou, mas agora iria ser diferente, eu estava madura o suficiente para de fato te ver, e estava pronta pra te receber, ao longo dos anos nós dois mudamos e agora nosso encaixe estava muito mais azeitado, era leve, não era difícil, foi fácil enxergar e aceitar todos os teus lados.

Não me leve a mal, um relacionamento real possui seus altos e baixos, com certeza ele não chegará a perfeição, mas é aqui que reside a leveza, abraçar as imperfeições é o que o torna mais fácil que um relacionamento completamente idealizado.

As dificuldades irão surgir, justamente por ser imperfeito, por ser real e a realidade é isso, um salto no abismo sem paraquedas, onde você só pode se entregar e torcer pra que lá embaixo algo apare e torne a tua cada mais suave.

Eu me joguei em você, sem medo, entendendo nossos limites, nosso tempo, e entendendo que você não era nada daquilo que eu esperava, não era um príncipe encantado, não era a minha alma gêmea, meu primeiro e único amor, não era nada disso, porque tudo isso era perfeito demais, planejado demais,e nós não somos nada disso.

Nós somos o casal chato que briga por besteira, nós somos o casal cheio de referências e de piadas que ninguém mais entende, nós somos aqueles que demoraram séculos para conseguirem se acertar, que demoraram anos para enfim ficarem juntos.

Nós não somos lineares, não fomos feitos um para outro, e isso é lindo, amor, é lindo porque juntos somos reais, é isso que torna o que a gente construiu único e especial.

Você é o que mais de real a vida me deu, e eu não sabia, mas a tempos buscava e precisava viver exatamente esse tipo de relação, você é o que eu quero, é o que eu escolho nesse momento, e é essa mágica que permeia todo nosso relacionamento, tivemos que algumas vezes ajudar o destino, porque ele vez ou outra insistia em nos separar, então tivemos que insistir em nós dois.

E assim fizemos, insistimos primeiro em uma amizade, ela se tornou amor e depois virou paixão, hoje temos os três juntos e é isso que faz eu acordar todo dia e de novo escolher segurar a tua mão.

Você não é o amor da minha vida, você é a pessoa com quem eu decidi dividi-la, você é aquilo que está ao alcance dos meus olhos, da minha alma e do meu coração. O amor maduro e leve que nunca sonhei, e por isso está sendo a melhor coisa que eu decidi verdadeiramente viver!

--

--

Alexia Cristhine

Mulher, negra, LGBT // Escrevo sobre amor para aliviar a alma. Escrevo sobre a dor para tentar curá-la. Escrevo sobre a realidade para tentar mudá-la.