Escolher como morrer ?

Alexia Cristhine
2 min readJun 10, 2020

Manifestações em meio a pandemia

Em meio a uma pandemia insurge no mundo o olhar para uma luta travada pela sobrevivência de pessoas que há muito tempo vêm sofrendo um genocídio sistemático e que tantos anos depois de lutar e não conseguir enxergar o resultado esperado está cansada e assim se rebela tomando as ruas.

Em meio a uma pandemia pessoas pretas saem em manifestação e clamam para continuar respirando, clamam para se sentirem seguras dentro de suas casas, clamam para que seus filhos tenham a mesma proteção que os filhos de suas patroas brancas.

Não se enganem, não é um ato absurdo e impensado sair às ruas em meio a uma pandemia provocada por um vírus de alto risco de contágio, é um ato pela igualdade, é um ato desesperado, infelizmente, pela sobrevivência, é um ato de súplica para que finalmente nos ouçam, pois já estamos roucos de tanto gritar.

Não se enganem, é cruel ver as pessoas arriscando mais ainda as suas vidas, não é nem de longe o ideal, mas nós estamos morrendo, e não só pelo Covid-19, nós estamos morrendo pela nossa cor da pele, o racismo está nos matando, e ele não está preocupado se estamos em meio a uma pandemia.

A violência policial não diminuiu, a violência contra as mulheres negras não diminuiu, a maioria de nós não tivemos a possibilidade de ficar em casa e está se arriscando todo dia para trabalhar.

Eu falo do alto da minha situação, “privilegiada” de uma estudante universitária que pode se resguardar e que tem a possibilidade de se manter viva, mas muitas pessoas não estão na mesma situação que eu, e muitas dessas pessoas nunca foram escutadas, a voz delas, também é a voz das ruas e precisa ser ouvida.

Parem de nos matar, parem de nos colocar no fogo cruzado, parem de nos fazer escolher pelo que vamos morrer e nos dêem a chance de continuar vivos.

As manifestações não são um ato de loucura e imprudência, são um grito de força, resistência e ao contrário do que aparenta, um grito pela vida. Parem de nos matar para que possamos ter a opção de ficar casa sem nos preocupar a cada minuto com as nossas vidas e as vidas dos nossos irmãos.

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Alexia Cristhine

Mulher, negra, LGBT // Escrevo sobre amor para aliviar a alma. Escrevo sobre a dor para tentar curá-la. Escrevo sobre a realidade para tentar mudá-la.