O teu último presente

Alexia Cristhine
3 min readMar 30, 2023

O sol entrou pela janela e iluminou os cacos de vidros me lembrando do que aconteceu na noite passada.

Me aproximei de alguns pedaços do último presente que você me deu e me vi em mil pedacinhos, partida, assim como você me deixou.

Lembrei de como tudo começou, das nossas risadas, do nosso primeiro encontro, nós dois desajeitados, sem saber muito bem o que dizer, mas sem nenhum desconforto com a presença um do outro.

Eu senti que ia te amar, mesmo sem acreditar em amor à primeira vista, eu senti que a gente ia ficar juntos, mesmo sempre imaginando o final antes mesmo do início.

E por um tempo eu estava certa, mas depois tudo se transformou. Agora éramos dois desajeitados, mas com um abismo entre nós, o conforto havia se perdido, assim como no primeiro encontro, não sabíamos o que falar, mas não era o frio da barriga do começo de algo bom que ditava o ritmo dos nossos encontros, era o aperto no estômago de algo que estava chegando ao fim.

Ontem quando cheguei em casa após a nossa última conversa, eu sabia que você já havia seguido em frente, eu vi como você olhava para ela e entendi que teu amor não era mais meu, mas já não era a muito tempo, eu sei que não existem vilões e mocinhos na vida real, sei que eu errei, e que meus erros também te afastaram de mim, mas isso não fez doer menos quando eu te vi olhando para outra pessoa da mesma forma que olhava para mim.

E o fato de você amar outra pessoa não é o que me machuca, até acredito que é possível amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo, o que me machuca é que ver o seu olhar me fez enxergar que você já não me olhava da mesma forma.

Eu decidi te deixar ir, você fingiu não entender, porém no fundo já sabia, a gente tinha encontrado o nosso final, éramos dois estranhos, presos a memórias de um amor tão lindo, mas que com o tempo se perdeu.

Eu terminei, eu coloquei um fim na nossa história, porque apesar dos pesares eu ainda te olho do mesmo jeito que te olhava quando a gente se conheceu, e pode parecer contraditório, pois como assim quem ama, é quem deixa o outro ir embora? Como assim, quem ama é quem desiste de lutar pelo seu amor?

Mas eu explico, quem ama quer ver o ouro feliz, quem ama sozinho, sonha em ser amado da mesma forma, uma parte de mim acreditava que quando eu dissesse que era melhor seguirmos caminhos separados, você iria discordar e dizer que podíamos dar um jeito de continuar, uma parte de mim queria te dar uma sacudida para você perceber o que estava perdendo.

Mas o inevitável aconteceu, você me olhou aliviado, deu as costas e disse adeus, eu suspeitava que não me amava mais, mas a facilidade com que foi embora me doeu.

Então peguei seu último presente, um vaso de flores, que estavam quase mortas, assim como nosso amor, e o ateei no chão, quebrando a última lembrança que você deixou, assim como você quebrou meu coração.

Eu sei que parece loucura estar sofrendo por algo que eu mesma provoquei, mas quem explica o amor?

Teu olhar de alívio me fuzilou e hoje no reflexo dos cacos de vidro, iluminada pelos primeiros raios de sol da manhã, eu vejo o meu olhar de saudade.

Quando o amor se transforma? Quando o amor deixa de existir? Não sei, e sigo sem saber em que ponto te perdi…

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Alexia Cristhine

Mulher, negra, LGBT // Escrevo sobre amor para aliviar a alma. Escrevo sobre a dor para tentar curá-la. Escrevo sobre a realidade para tentar mudá-la.