Que se foda a felicidade!

Alexia Cristhine
3 min readMar 20, 2022

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Criada a base de comédias românticas e livros com finais felizes, demorei demais para entender que nem tudo no final vai acabar bem.

Eu sempre me agarrei ao fato de que uma hora a dor passaria, quando era pequena e me machucava eu ficava apertando o machucado, não porque gostava de sentir dor, mas porque achava que se doesse muito naquele momento em algum momento a dor ia acabar esgotando de vez, e assim eu ficaria mais rápido.

Sem perceber acabei levando essa lição para vida. Eu realmente acho que é melhor sentir toda a dor de vez do que adiar ou simplesmente ignorar o sofrimento e fingir que está tudo bem, porque a dor cobra juros e quanto mais você esconde e a tranca a sete chaves, pior a dívida fica, quando a dor decide vir ela vem com tudo e te deixa ainda pior.

Mas uma coisa que percebi é que não adianta apressar o sofrimento, principalmente na esperança que se sofrer tudo o que tiver para sofrer agora, amanhã vai estar tudo as mil maravilhas, não é assim que as coisas funcionam, cutucar a ferida só faz ela piorar, só faz a dor aumentar e ser prolongada.

Passei a vida inteira fingindo aceitar a dor, mas o que eu realmente queria era fazer com ela passasse mais rápido, eu queria encontrar o mais breve possível o final feliz, eu já tinha visto inúmeros filmes, lido inúmeros livros, todo herói sofre antes de conseguir salvar o mundo, é a sua jornada, a vitória só chega depois de muitas derrotas, a alegria só chega depois de muito sofrimento.

Mas não é bem assim que a vida funciona os filmes mentem para gente, realmente existem algumas pessoas que sofrem muito antes de alcançarem o que querem, mas o que não vemos passar nas grandes telas e nas páginas é que nem sempre a dor passa, é que nem sempre alcançamos o que queremos, nem tudo termina com um final feliz, com uma grande lição.

O que aprendi depois de um tempo é que sim, temos que que abraçar a dor, no entanto não podemos fazer isso acreditando que temos controle sobre ela, não podemos fazer isso acreditando que ela vai passar mais rápido se assim fizermos.

A dor possui o seu tempo, e finais felizes são super estimados, aprender a aceitar que as vezes vamos ser derrotados, que as vezes vamos nos magoar, é essencial, o mais importante no fim de tudo é entender que nada disso é nossa culpa, é entender que faz parte da vida as coisas não saírem como planejado e que não existe nada de errado em não estar feliz, curtindo uma praia ao lado dos seus melhores amigos num domingo de sol.

Finais felizes não existem, porque nós nunca chegamos de fato no final, depois que o herói salva o mundo a vida continua, não são os finais que definem uma história, buscar a felicidade pode ser cruel e acabar gerando ainda mais tristeza, nem tudo vai acabar bem, e isso é frustrante, é horrível demais pensar que não vamos no final sermos enfim felizes, é desconfortável não é nada legal.

Depois de muito sofrer tudo que queremos é ter certeza que aquilo vai acabar, passamos a vida sendo ensinados que é errado ficar triste, que isso só atrapalha a gente e quem a gente ama, é errado ser simplesmente mediano ou ruim em algo que você se propôs a fazer, erros não são permitidos.

Ainda luto para aceitar que talvez nunca seja bem sucedida financeiramente, que talvez eu não seja uma profissional reconhecida, que não consiga achar alguém legal para compartilhar a vida, que não encontre o acolhimento e aceitação que tanto busquei, tento aceitar que a vida pode não ser tão boa quanto imaginei.

Mas isso não me paralisa, só me tira o peso de ter que correr atrás de todas essas coisas, crescer sabendo que ninguém acreditava de fato que eu alcançaria muita coisa, me fez querer ser excelente em tudo, me fez querer ser aceita e amada a qualquer custo e como isso me doeu.

Agora tento parar de querer provar que eu sou capaz, porque na realidade talvez eu nem seja capaz e no fundo isso não importa, o que importa no fim do dia é a comidinha gostosa que eu consegui enfim acertar a receita, é o livro lindo que eu terminei finalmente de ler, é mandar todo mundo para aquele lugar e aceitar que não, eu não preciso encontrar a felicidade, eu só preciso olhar para todo o peso que colocaram sobre as minhas costas e dizer: “essa bagagem não é minha".

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Alexia Cristhine
Alexia Cristhine

Written by Alexia Cristhine

Mulher, negra, LGBT // Escrevo sobre amor para aliviar a alma. Escrevo sobre a dor para tentar curá-la. Escrevo sobre a realidade para tentar mudá-la.

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